Este blog tem por finalidade promover a discussão, troca de experiências e suporte para os professores de Educação Inclusiva da Rede Municipal de São Vicente e demais interessados.

terça-feira, 25 de setembro de 2012


SURDEZ, BILINGUISMO E INCLUSÃO

Autores: Michelle Marques Carmozine e Samanta C.C. Noronha

"Quando eu aceito a língua de outra pessoa, eu aceito a pessoa.
Quando eu rejeito a língua, eu rejeitei a pessoa porque a língua é parte de nós mesmos.
Quando eu aceito a língua de sinais, eu aceito o surdo, e é importante ter sempre em mente que o surdo tem o direito de ser surdo. Nós não devemos mudá-los, devemos ensiná-los, ajudá-los, mas temos que permitir-lhes ser surdo."   
Terje Basilier

 

O Brasil passou a ser considerado um país bilíngue desde o dia 24 de abril de 2.002 a partir da promulgação da lei de nº10.436 sendo a Língua de Sinais Brasileira (Libras), reconhecida como segunda língua oficial.

Ao longo dos anos o Ministério da Educação (MEC) vem implantando a política de educação inclusiva. Sendo assim as escolas regulares passaram a receber um expressivo contingente de alunos Surdos e com déficits auditivos.

O decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2.005 regulamenta o atendimento especializado a este alunado na sala regular de ensino, bem como define o papel de outro personagem importante: O intérprete de Libras, profissional fundamental, com formação específica, que é o responsável pela mediação da comunicação entre Surdos e ouvintes através da língua de sinais.

A Libras é reconhecida pela linguística como língua, pois possui gramática própria, bem como mecanismos morfológicos, sintáticos e semânticos; pesquisas também comprovam que o seu reconhecimento ocorre do lado esquerdo do cérebro, ou seja, aquele relacionado à língua.

 A língua de sinais brasileira, como quase todas as línguas, é uma língua viva e possui os requisitos científicos para ser considerada um instrumental lingüístico de poder e força, de uso e produto social.

De modalidade visuoespacialquirêmica (visuo - visão, espacial – espaço/área, quirêmica – com o uso das mãos), é a língua primeira (L1) dos Surdos.

Pela limitação sensorial, estes alunos não adquirem naturalmente a Língua Portuguesa: língua segunda (L2), sendo considerada como um aprendizado mecânico e artificial, o que reflete negativamente no desempenho escolar, onde geralmente passam a ser vistos com não capazes.

Historicamente a língua de sinais tem sido vista como secundária, e as instituições escolares tentam garantir o desenvolvimento da criança Surda, partindo para a busca de formas de aprendizagens próximas a dos ouvintes. Ocorrendo insucessos, visto que para o ouvinte a língua portuguesa se desenvolve como a língua de sinais para o Surdo, ou seja, como uma L1, língua primeira.  

Segundo Cummins (2003), crianças que vão para a escola com uma língua consolidada, terão possibilidades de desenvolver habilidades de leitura e escrita com maior consistência. Portanto, quando a criança Surda, no início de seu desenvolvimento, recebe a chance de aprender a língua de sinais com outro Surdo, aprende a narrar em sinais, a ler em sinais, e terá maior possibilidade de atribuir significado aos conceitos em língua portuguesa, capacitando-a para o bilinguismo.

A grosso modo, bilíngue é a pessoa que faz uso eficiente de diferentes línguas em diferentes contextos sociais. No caso do Surdo seria o conhecimento e uso da Libras e da língua portuguesa, na modalidade oral ou escrita.

Para que se efetive o bilinguismo social, no contexto escolar, é necessário que todo o contingente técnico e pedagógico da escola possua bons conhecimentos em Libras, pois o desconhecimento destes profissionais implica em dificuldades nas adaptações curriculares.

Em uma perspectiva bilíngue, o currículo deve ser organizado para garantir acesso a todos os conteúdos escolares na língua de sinais brasileira. Para tal o papel do intérprete nesses ambientes escolares é de primordial importância, no entanto, com frequência o profissional Intérprete de Libras, tem seu papel confundido com o do professor e acaba recebendo a função de tutorar o aluno Surdo, transferindo para si as responsabilidades por seu desenvolvimento pedagógico. O que não é o ideal, visto que mesmo com a presença do intérprete a responsabilidade é e sempre será do professor regente da sala, e isso inclui o aluno Surdo.

A inclusão é um desafio para todos, e o professor também precisa passar pelo processo de aprendizagem de ter no grupo um contexto diferenciado, com a presença de alunos Surdos e intérpretes de língua de sinais.

De forma geral os professores não dominam os conhecimentos necessários para a compreensão de processos de aprendizagem de uma língua quando a audição está ausente. Por este motivo é imprescindível a formação continuada, para a capacitação de educadores mais reflexivos, conscientes das necessidades educacionais, sociais e afetivas do alunado Surdo, assim como ter este novo olhar sobre a educação e o seu contexto atual.

Faltam aos professores regulares os conhecimentos relativos às metodologias de ensino de línguas, bem como à diferença entre metodologias de ensino de Língua Portuguesa como primeira e segunda língua.

O processo de inclusão é um desafio não só para o professor, mas principalmente para o Surdo, que é o indivíduo mais impactado com este novo contexto escolar, e envolvem tentativas e erros, situações inusitadas e ás vezes frustrantes.

 

Algumas ações importantes para o sucesso da educação inclusiva bilíngue:

·         Ofertar cursos de capacitação em Libras para os professores e demais profissionais interessados.

·         Envolver a família no trabalho pedagógico desenvolvido, bem como promover curso de língua de sinais aos pais e as crianças Surdas.

·         Incentivar a Libras como a primeira língua do Surdo, respeitando esta condição.

·         Capacitar os professores, às metodologias de ensino de língua portuguesa como primeira e segunda língua.

·         Assegurar as adaptações curriculares necessárias ao bom desenvolvimento do aluno Surdo.

·         Fornecer informações básicas sobre surdez, bem como a Libras para todos os envolvidos no processo educacional destes alunos.

·         Garantir a participação de um educador surdo na prática pedagógica na classe especial/sala de recursos multifuncional.

·         Evitar comportamentos de rejeição e superproteção.

·         Respeitar as particularidades educacionais, bem como a identidade cultural do aluno surdo.

·         Ter em mente a função do intérprete educacional e o seu papel dentro do ambiente escolar.

·         Entender que a inclusão trata-se de um processo diferenciado e que requer um novo olhar sobre as práticas pedagógicas.

·         Obter os conhecimentos básicos referente às diferentes perdas auditivas e saber reconhecer a influência das mesmas no desenvolvimento sócio-educacional do aluno Surdo.

·         Conscientizar-se de que a inclusão trata-se de um processo em desenvolvimento onde apenas com a participação efetiva de todos os envolvidos será possível buscarmos as respostas para as lacunas e faltas relacionadas existentes neste mesmo processo.  

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